A Rádio do Futuro

A árvore central de nossa consciência - inaugurará novas formas de competir em pé de igualdade com as nossas tarefas intermináveis e unirá toda humanidade {sic}. A principal estação de rádio, aquela fortaleza de aço, onde nuvens de fios se amotoam como fios de cabelo, será com certeza protegida por um aviso, com dois ossos cruzados sobr uma caveira e a palavra familiar "perigo", pois o mínimodescuido nas operações de rádio produziria um blecaute mental no país inteiro, uma perda temporária de consciência (V. Khlenikov).



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pé-de-Rádio

Pé-de-rádio é uma trepadeira psicoativa da família das rádios livres e selvagens, cujo principio ativo desenvolve em quem a usa o dom da telepatia, isto é, da transmissão e escuta de pensamentos à distância. Com efeitos suavemente contra-hegemônicos e cognitivos, a planta também é indicada como coadjuvante no tratamento da escuta passiva e da fala reprimida. A intervenção-oficina “pé-de-rádio”, objetiva a introdução dessa espécie invasora em ecossistemas comunicacionais monopolizados e corporativistas, no sentido de promover a biodiversidade cultural e despoluir o ambiente.




Pé-de-rádio: Apresentação conceitual.



Pé-de-rádio é uma intervenção-oficina de radiodifusão em espaços públicos (a cidade e o espectro radioelétrico ou dial) e “naturais” ou rurais, que consiste na instalação de um transmissor FM de baixa potência e antena acoplada a uma árvore, além da instalação no corpo da árvore de microfones onmidirecionais e outros igualmente sensíveis e passar a transmitir deste ponto, a princípio, a própria paisagem sonora do entorno da árvore, os timbres imanentes desta paisagem.

A intervenção busca evidenciar acusticamente a materialidade e os limites do território coberto pelas ondas do pé-de-rádio, colocando receptores nas fronteiras tênues e fugidias da área coberta pela onda irradiada pela antena, receptores que funcionem como marcos topográficos e que desenhem um outro território dentro do qual buscaremos estabelecer dinâmicas comunicacionais com a comunidade local propondo situações coletivas em torno da árvore e na área de abrangência do sinal transmitido: encontros, debates, cantoria, poemas… as falas se misturando aos sons da paisagem, direto, ao vivo sem edição, porém sem deixar de explorar recursos de equalização digital para “compor” em tempo real com os timbres captados pelos microfones.

Neste sentido a intervenção também é uma oficina de radiodifusão situacional, rádio ao vivo simplesmente, sem separação entre produção e difusão. O pé-de-rádio é rádio selvagem ao vivo, sem edição.

Ao ocupar uma freqüência vaga no dial FM intervindo também aí neste espaço público que é o espectro radioelétrico, supostamente regulado pelo Estado e objeto de acirrada disputa política, o “pé-de-rádio” é um grafites acústico no dial, uma canção nonsense intervindo no fluxo de pregação religiosa, música ligeira comercial e noticiário medíocre, que constituem a programação atual da maioria das rádios que operam na banda FM.


Depois de um reconhecimento da área de abrangência do sinal FM irradiado pela antena na árvore, os alunos atuariam como repórteres do pé-de-rádio abordando e entrevistando pessoas que pudessem estar se ouvindo no momento da entrevista feita por celular para o canal de telefone da mesa de som q manda o áudio para a antena, ou como se diz no rádio, através da chave híbrida, suas falas então são mixadas à paisagem sonora q estará sendo transmitida e ouvida no radinho receptor, o retorno na verdade, q dá o feedback da voz para o ouvinte entrevistado.

Na abordagem convida-se a pessoa primeiramente a ouvir o som transmitido captado pelos microfones na árvore, a paisagem sonora, no fone ouvido do radinho. Daí, solicita-se q ela faça comentários a respeito dessa paisagem sonora, o q lhe sugere, se identifica fontes sonoras, se percebe poluição sonora e mais q der na telha do entrevistado querer falar. Para alguns, provavelmente, será a primeira vez que vão estar se ouvindo falar no rádio. Outros pontos poderão estar se comunicando entre si dentro do sítio abrangido pelo sinal FM, tecendo uma teia de áudios, uma rede de comunicação radiofônica onde o receptor/ouvinte seja simultaneamente emissor, como reivindicava Brecht na sua Teoria do Rádio, texto de 1932.

Outra proposição é semelhante nos procedimentos, mas o repórter neste caso senta-se num bar ou algum espaço público tipo praça, shopping e outros. Onde pegue o sinal do pé-de-rádio, pede uma cerveja e serve um copo ao "amigo rádio-receptor" que se dirigiria a ele como "amigo ouvinte", clichê conhecido do rádio. Conversa com o rádio receptor falando e fazendo perguntas pelo celular com alguém ou um grupo q estará no ponto de transmissão. Pode também convidar pessoas e entabular um debate, conversa com o receptor na mesa respondendo como se fosse mais uma pessoa.

Com uma mesa de som de 12 canais, em cada canal uma chave híbrida, todos os canais abertos para telefones entrarem no ar direto, e a programação ser toda feita de fora da estação transmissora pelos participantes falando por telefone com a estação e todos se ouvindo, daí vermos como fazer a mediação possível desta polifonia aberta, fazer a "ancoragem" deste debate.

Foto: Silvia Leal

Wallace Hermman